sábado, 10 de agosto de 2013

Posted by Laistew on 19:14 No comments
Passaram-se três meses, e a primavera chegou. Nesse tempo entre as aulas, os insultos ainda frequentes e os minutos de tormenta na mesa dos populares. Fiz dois amigos, Ed e Maya.
Ed é meu vizinho, também tem pais separados, então nossos pais são amigos do tipo que sempre veem os jogos de basquete juntos. Nós tornamos amigos porque ele sempre vem em minha casa acompanhada do pai quando tem jogo, e claro, porque ele também é, digamos estranho. Não posso dizer que ele é bonito, mas suas feições são bem charmosas. Ele sempre usa a mesma combinação de roupas, calça jeans e camiseta xadrez, pelo que eu sei ele deve ter pelo menos umas 17 camisas de cores diferentes.
Maya é bem bonita, em minha opinião ela é mais bonita do que as “Crock”. Nós inventamos esse nome para as anoréxicas, quando um esqueleto anda de salto em um piso de madeira fica fazendo esse barulho, “Crock”, “Crock”. Ela é do tipo que fala com todo mundo com facilidade que eu não entendo. Simplesmente ela se aproxima de você e diz: “Nossa, amei esses seus sapatos, e essa bolsa, meu Deus!”. Uma hora depois vocês melhores amigas até que as “Crock” te separem.
Nós conhecemos na aula de na aula de artes, eu estava pintando aquela borboleta azul que fez o Senhor Bigodes finalmente fazer exercícios, e Maya um pássaro. Como ela é muito desajeitada derrubou tinta vermelha em mim, pediu desculpa mais mesmo assim eu derrubei tinta azul nela, acabamos dando tapas na cara uma da outra, rimos e ficamos falando: “Nossa, roxo combina com você”, acabamos nós tornando amigas.
Acordei com algumas gotas de chuva caindo no teto de vidro do meu quarto e uma música tocando:
My Chemical Romance, the Ghost of You.
Depois percebi que era o toque personalizado de Ed.
-Em, vem aqui em casa agora.
-Vai se ferrar, é sábado e eu quero dormir.
-Cara, dorme depois aconteceu uma coisa séria e meu pai não está em casa. Rápido.
Ele ficava falando que tinha caído da escada e não conseguia sentir a perna.
-Tudo bem Ed, já estou indo.
Levantei da cama e calcei minhas pantufas de coelhinhos e Charlie ficava esfregando os olhos com uma mão e com a outra segurava a Pug.
-O deixa morrer, vamos voltar para a cama. - disse ele.
Não respondi, só desci as escadas e fui socorrer o Ed. Que pelo tom de voz, parecia ter só pisado no pato de borracha, batido a perna no corrimão e a bunda no degrau.
Quando cheguei lá Ed estava me esperando na porta da frente de pijama e segurando uma xícara de café que aparentemente era pra mim. Seus belos cabelos castanhos claro estavam bem bagunçados e seus óculos, quase caindo do rosto estavam um pouco embasados por causa do tempo nublado.
-Linda pantufa me empresta?
-Você me acorda essa hora pra falar que minhas pantufas são bonitas? Cadê sua perna machucada? E me da essa xícara café.
Ele explicou que só queria me tirar da cama e mandou-me subir para seu quarto onde suas cuecas estavam todas jogadas no chão e em cima da cama.
O “Refugio” de Ed é bem bagunçado, o típico de um adolescente. Desenhos de super-heróis que alguns eu desenhei em sua parede, caixas de pizza com restos no chão, revistas masculinas escondidas embaixo da cama, livros jogados no chão e CDs de suas bandas favoritas empilhados em ordem alfabética.
-Preciso que você finja ser minha namorada. –Ele disse isso virado de costas para mim com a mão na cabeça.
-OQUE?
-Só por hoje e amanhã. Minha mãe e o Thomas vão vir aqui passar o final de semana.
-Por que eu tenho que ser sua namorada?
-Você só tem que fingir. Em, faz anos que não os vejo e raramente eu falo com eles. –Ed se virou para me encarar-Eu só quero ficar do seu lado, sabe, só ter alguém pra me apoiar. Se você for minha namorada eu finalmente vou ter algum assunto para conversar com eles. Mostra que eu não preciso deles porque eu tenho você!
-Tudo bem Ed. Um final de semana. –Revirei os olhos e cruzei os braços. - Não vou ficar falando que te amo, não vou andar de mãos dadas nem te chamar de apelidos fofos e muito menos te beijar. –Falei com um tom mais calmo do que deveria.
-O. K. Só que nós vamos passear no parque, então, sei lá usa um vestido.
-Até mais. Vou dormir. Quer dizer vou voltar a dormir.
-Até mais Em. Vou passar na sua casa ás 15h30min. –Sai de seu quarto. Já estava descendo as escadas quando Ed fala – SE A MINHA MÃE PERGUNTAR VOCÊ ME AMA, A GENTE PRETENDE SE CASAR E VOCÊ QUER ME DAR DOIS FILHOS! E OBRIGADO EM.
Ed é um cara legal e gentil, mas é só meu amigo. Nunca passei noites em claro pensando nele. Ia ser difícil fingir ser sua namorada, quem eu quero enganar, ia ser muito difícil.
Nunca conheci a mãe e o irmão mais velho de Ed. Tudo oque eu sei é que os pais dele se separaram quando ele tinha seis anos e o irmão onze e também que pelas fotografias que vi Thomas é forte, alto e loiro, nunca vi a mãe.
Antes de cair novamente em meu sono profundo pensei em Ed. Chorando achando que a culpa era sua por seus pais terem se separados. Vejo-o esfregando os olhos inchados e vermelhos olhando pra a porta de casa e vendo sua mãe com a mala na mão e Thomas ao seu lado indo embora. Ele Gritava “MAMÃE, MAMÃE” logo em seguida de um pequeno sussurro“Me desculpe”. A porta se fecha, Rick apoia as costas na parede e cai no chão colocando as mãos no rosto e dizendo “Vai ficar tudo bem filho, ela vai voltar”, suas palavras saíram com um som choroso e sofrido, não conseguiu convencer o filho de que estava tudo bem e que a mãe voltariaum dia.
Depois pensei em Taylor, meu irmão, se agachando e colocando a mão em meu ombro ossudo. Ele me encarava, seu rosto não era de preocupação, era doce e calmo. Taylor sussurrava em meu ouvido minúsculo “Eu volto Emmy, um dia poderemos ver as estrelas juntos, eu prometo”. Minha mãe chorava no canto da sala, dizendo para si mesma o quanto seu garotinho cresceu. Meu pai chorava. Meu avô dizia que sentia muito orgulho dele.
As mãos de Taylor de repente ficaram rígidas em meus ombros, ele olhava para baixo, lágrimas corriam pela sua face. Foi deslizando a mão pelo meu braço até chegar á minha mão, “Emmy, quero que fique com isso” ele me entrega um colar de prata com uma plaqueta de identificação e uma carta. Levanta-se, pega sua mochila e á joga sobre o ombro esquerdo e saí. Corri para a porta da frente desesperadamente. Taylor se virá e me dá um sorriso. Foi à última vez que eu o vi, a última vez que eu vi aquele sorriso e os olhos brilhantes, foi á última vez que me senti tão em paz, foi á última vez que vi meu irmão.
Depois desse dia nunca mais ninguém me chamou de Emmy. Sempre que falavam Emmy, lembravam-se dele, eu lembrava.
Quando eu tinha finalmente dormido meu pai me acorda para almoçar.
-Em, acorda, vamos, vamos, está na hora do almoço. –Peter me balançava na cama – Emma Shepard acorde nesse instante. –Ele puxou meu coberto e começou a me bater com a Pug.
-Tudo bem. –Ele continuava a bater na minha cabeça com a coruja. –Pronto! Levantei. Homem pare de me bater com a Pug.
Charlie ria histericamente no canto da cama.
-Vou estar te esperando na cozinha. –Ele se levantou e fechou a porta. Um silêncio dominou meu quarto.
-Charlie, você acho muito estranho o Ed falar que precisa de mim?
-Não, porque eu acharia estranho algum cara legal como ele precisar de você? Mentira eu acho muito estranho, você é inútil. –Rimos. Depois de uma pausa ele finalmente disse oque eu queria ouvir – Em, você é a é a pessoas mais legal que eu conheço. Por isso eu sei que você vai ajudar o Ed. E, não acho estranho ele pedir para te apoiar. Quem não iria querem Emma Shepard como namorada por um final de semana? Você é engraça e sincera, também levemente estranha. –Ele suspirou. - Você é incrível!
Quando fui para a cozinha percebi o quanto branca ela é. Algumas bancadas, uma geladeira de duas portas, uma ilha no centro, uma mesa, vários armários na parede, umas micro-ondas, uma cafeteira e um fogão.
Meu pai estava sentado na mesa comendo lasanha e Paula lavando algumas taças de vinho que estavam na pia.
-Nem me espera pra comer, que pai! –Comecei a abrir os armários á procura de pratos. –Onde é que tem pratos nessa casa? Oi Paula.
-Oi querida.
-Terceiro armário. –Ele pega um pouco da lasanha com o garfo. - Muito bonito o seu gesto de ajudar o Ed.
-Nem tanto. Qualquer uma faria isso. –Finalmente eu achei um prato. Peguei-o e sentei-me ao lado de Peter. – Você sabe por que a mãe do Ed foi embora?
-Não sei filha. Rick nunca me disse o porquê a Ashley foi embora. – Ele suspirou e olho para o teto. – Não pergunte pro Ed isso. Duvido até que ele saiba. Não vai se arrumar? Já são 14h00min eles já devem estar chegando.
Corri para meu quarto. Como ninguém me avisa que já estava em cima da hora? Charlie, Peter e Paula em casa e ninguém me fala que eu precisava me arrumar para meu encontro falso com meu namorado falso, sua mãe que provavelmente o odeia e seu irmão bonitão. E onde estaria Ed? Será sua mão iria cair se ele me ligasse avisando que já estava quase na hora de brincar de casinha?
Comecei a pegar várias roupas minhas e jogar na cama falando “Eu não tenho nada pra vestir!”.
-Usa aquele vestido azul… Com aqueles saltos que sua mãe te deu de Natal. –Disse Charlie. –Ou aquele verde.
-Não posso usar salto, vamos para um parque! –continue a invadir meu guarda roupa e me perguntando onde eu comprava minhas roupas. - Vou ligar para a Maya. –Me joguei na cama e peguei meu celular que estava dentro da minha meia. –Alô? Maya? Preciso da sua ajuda, qual roupa eu uso para ir num parque com o Ed?
-OQUE? O Ed? Saiba desde o começo que vocês formariam um belo casal. Em, usa aquele Azul, ele é fresco e perfeito para um dia no campo e não amaça olha que maravilha, assim você e o Ed podem aproveitar.
-Não estamos namorando, depois a gente explica. E oque eu uso no pé?
-Me deixa ver… Que tal um All star? Não, ia ficar muito estranho com um vestido daqueles, usa uma sapatilha preta, aquela com um laço na frente. Ou o vestido preto, é lindo. Quer saber Em? Vou estar ai em 5 minutos. Tchau.
5 minutos em ponto. Minha campainha toca.
Assim que abri minha porta vi a cabeleira negra de Maya passando por meus olhos. Seu perfume doce invadiu minhas narinas. Sua pulseira de prata com alguns pingentes e sinos balançava fazendo uma melodia perfeita. Seu vestido branco se mexia conforme ela subia as escadas. Maya com certeza é magnifica.
-Em, não vai subir? –Maya só mostrava o rosto, seu corpo estava escondido atrás da porta do meu quarto. –Em?
-Sim, sim, já vou.
Fechei a porta e comecei a subir as escadas.
Maya é tão delicada.
 Faltando 20 minutos para ás 15h30m Ed me manda uma mensagem:
Em, Estou muito nervoso. Oque eu vou dizer? Oque eu devo sentir? Raiva? Esperei por muitos anos esse momento. Perdi muitas noites em claro pensando no que dizer a eles. Olhava para o teto e imaginava a cena milhões e milhões de vezes na minha cabeça, cada ano que passava eu mudava alguma coisa. Um vaso, um novo retrato de família. Imagino minha mãe chegando a nossa casa com as malas na mão. Ela joga as malas no chão e corre para me abraçar, um abraço forte e muito materno. Depois imagino Thomas batendo no meu ombro com força dizendo “mano”. Em, vem pra cá estou começando a ficar realmente “sentimental” demais com essa história. Só você mesmo para me acalmar.
Alguma coisa dentro de mim diz para ajudar Ed, acalma-lo e ó apoiar. Ninguém se parece mais comigo do que ele.
Abandonados pela nossa mãe, quase esquecidos pelos pais e possivelmente estranhos.

0 comentários: